Tenho 60 anos e desde que me lembro de ter consciência de vida, me percebo como masculino. Sofri muito na infância e na adolescência pq além da angústia e das disforias severas, ainda faltava informação, em uma época onde não havia internet e tudo era proibido. Apesar disso, na adolescência já me afirmei perante família sociedade. Minha carreira não decolou por conta dos preconceitos mas, felizmente acabei trilhando meu próprio caminho e tive uma vida profissional satisfatória. Me apaixonei muito por mulheres cis, levei muitos foras, alguns humilhantes de algumas, mas também tive relacionamentos bem legais com outras. E sempre me declarei, mesmo sabendo dos riscos. Hoje estou aposentado, moro na praia e estou casado há 12 anos. Meu espírito se acalmou e minha mente se tranquilizou. Faço muita atividade física para minimizar as disforias e trabalho muito a mente para exercer o perdão aos desavisados. Minha família sempre me apoiou e por isso consegui chegar até aqui. Agora só quero paz e calmaria. Só quem passa por uma inadequação assim é capaz de entender a dimensão do sofrimento que carregamos na alma e no corpo. Levantar toda a manhã, matar muitos leões por dia , espantar os fantasmas à noite e viver brigando com o mundo e consigo mesmo, pode destruir facilmente a vida de uma pessoa trans porque além de todas as dificuldades e desafios enfrentados pelas pessoas cis, ainda temos que lidar com nossas disforias e medos e com a intolerância e desrespeito alheio. Muito difícil. Então, se você é cis, não precisa nos amar nem casar com a gente. Mas respeite. Porque ninguém escolhe viver em desarmonia com seu próprio EU. Fiquem em paz.