Lésbica depois dos 50

É difícil ser Lésbica depois dos 50, ainda mais desempregada. Uma conclusão: mulher não quer amor. Quer dinheiro.
Outra conclusão: se você tem dinheiro, você pode ser qualquer das “letras”. Tudo e todos têm um preço.
Esse não é o espírito azedo de uma mulher infeliz. É a realidade que vivi durante muitos anos, desde que me formei em jornalismo. Durante muitos anos trabalhei na minha profissão. Com salários altos, bom poder aquisitivo, morando sozinha e com carro na garagem, tive relacionamentos longos. Outros nem tanto. Quase sempre estava acompanhada. Na primeira queda, lá pelos 30, fiquei solteira, mas logo consegui outro trabalho. E rápido já estava casada de novo. Antes dos 50 sempre consegui trabalhar na minha profissão. Sou uma jornalista talentosa e premiada. Com dinheiro, status de funcionária de grandes emissoras de TV, boas roupas e frequentando as baladas da moda, era fácil namorar. Depois dos 50 já somos considerados velhos para o mercado de trabalho. Mesmo assim não desisti. Trabalhei como motorista de aplicativo, vendi cosméticos, escrevi livros de poesias, tentei vender camisetas com estampas dos meus poemas. Nada disso, porém, supriu as necessidades financeiras. E, enquanto fracassavam a área profissional e as finanças, também faliam as vidas afetiva e social. As “amigas” se afastaram. É como se tivéssemos uma doença contagiosa. As mulheres até se aproximam, claro. Sou uma jovem senhora Lésbica bem interessante. Quando descobrem que não tenho emprego, moro com minha mãe idosa, não tenho carro e o dinheiro é bem limitado, as moças fogem.
Há uns seis anos conheci uma moça de outro Estado. Dizia-se apaixonada. Eu ainda ganhava algum dinheiro como autônoma.
Ela decidiu mudar para o Rio. Eu ajudei. Encontrei uma casa para alugar, emprestei eletrodomésticos e dinheiro para comprar móveis. Depois que se instalou na cidade, essa moça sumiu com minhas coisas. Nunca me pagou. Era um golpe. Nunca tinha passado por coisa parecida. Atribuí essa minha “ingenuidade” em acreditar nessa mulher, à carência afetiva de alguém que já não tinha mais uma convivência social. Serviu como aprendizado e ajudou a instalar o medo de estar com pessoas.
Outro episódio que ilustra bem minhas conclusões, foi um passeio que fizemos eu, uma outra mulher que namorei brevemente, já na época de penúria, uma amiga bem mais abastada e a namorada dela, filha de família rica que, para todos os efeitos, ainda está no armário, aos cinquenta e poucos anos. Andando pelo centro do Rio, a namorada dessa amiga atravessava a rua para não andar ao meu lado e da minha namorada. Nós estávamos de mãos dadas. Em outras ocasiões o comportamento dessa mulher se repetia em relação a mim. Parecia não querer que soubessem que estavamos juntas no mesmo ambiente. Não sou muito feminina. E, sem dinheiro, não dá pra usar roupas caras.
Soube depois que essa moça, sem nenhum preconceito, viaja, anda num grupo de Lésbicas ricas iguais a ela. A Lésbica “homofóbica” só tem preconceito com LGBTQIA+ pobres, sem roupas de grife.
Depois do golpe e da falência da vida financeira e social, vivo reclusa. Nem tanto por escolha, mais por imposição da vida.
Ninguém convida uma Lésbica cinquentona desempregada pra sair, nem pra viajar. Ninguém telefona ou chama no WhatsApp. E quando, por acaso, te encontram na rua, ou fingem que não reconhecem ou iniciam a conversa com as mesmas frases: “oi sumida. Tudo bem com você?”
A verdade é que não sumi. Estou no mesmo endereço, mesmo número de celular.
A verdade é que ninguém se interessa se você está ou não bem, se anda se sentindo só, se deseja apenas um abraço amigo, alguém pra te ouvir, ou apenas sentar e beber uma cerveja gelada, sem nada dizer. Só pra saber que, apesar de tudo, tem outro copo na mesa.

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