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Anda Voices

Histórias de pessoas LGBTQIAP+

Escreva para conscientizar

Independente do que você tenha vivido, divida sua experiência com o coração aberto. Vale momentos bons e ruins, ok? Mas ô, evite citar nomes de outras pessoas, escrever detalhes que sejam pessoais e não use palavrões. Tenha ciência que sua palavras por aqui terão a responsabilidade de ajudar e conscientizar pessoas da comunidade LGBT+ ou não, sobre a nossa realidade.

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Depoimentos LGBTQIAP+

Bonequinha Susi

Ainda criança com 13 anos, inocente e com a puberdade tardia, crescendo em uma cidade tradicionalista no Sul do país. Sem ter contato algum fora da bolha que minha família me colocou, entendo que por proteção, pois eles desde cedo sabiam que eu era diferente dos meus dois irmãos.
Já havia ouvido insultos antes de outras crianças me chamando de marica, menininha ou algo assim. Mas naquele ano em que eu tive que mudar de escola, porque o ônibus escolar não me levaria mais pra escola que eu estudava antes, não havia celulares, perdi total contato com os amigos e colegas que havia feito, e entrei em um novo mundo, tentando fazer amigos, mas eu era diferente, e não entendia a razão pela qual ninguém queria ser meu amigo, até o bulling começar.
E começou com agressão física partindo de outros meninos, me intimidando a mostrar masculinidade e partir para a briga, eu era menor, mais fraco e medroso, o que eu faria a não ser me esconder?
Mas como se isso não bastasse, a forma de me atormentar passou a ser recorrente, grupos de meninos me ameaçavam constantemente, eu alertei meus pais, e o conselho deles foi, “eu não tenho tempo pra isso, se vire”. A forma que eu arrumei foi não sair da sala de aula em hipótese alguma, nem mesmo para ir ao banheiro. Mas haviam meninos dentro da minha sala, os quais não me agrediam enquanto eu fazia a lição de casa para eles, porém em algum momento isso seria um problema, afinal o hetero cis têm de provar sua masculinidade de alguma forma, seja ela batendo ou fazendo alguma piadinha escrota, daí surgiu um apelido “olha a bonequinha, a barbie, não barbie é mais macho que ele, ele tem mais cara de Susi”.
Susi passou a ser o mair insulto que eu poderia receber, até mesmo alguns professores tiveram a audácia de rir enquanto os colegas faziam piada de mim, um até mesmo me chamou de susi fazendo a chamada, a diretora do colégio a qual me atendeu fumando dentro de sua sala, afogou-se com sua própria risada grossa e cuspindo nicotina ao rir quando falei que estava sendo ofendido pelos colegas.
Tentei revidar várias vezes, mas só era pior, era eu contra um colégio inteiro, que passava na janela gritando “susi, susi, susi” enquanto eu tentava me esconder do mundo. O inferno que eu vivia todo dia parecia não ter fim, e as formas de me insultar pareciam não parar de ganhar força, até que um dia eu entrei dentro do ônibus escolar, todas as crianças já estavam lá dentro, prontas para cantar “luz na passarela que lá vem ela, é a susi deixa ela entrar”. Todos riam inclusive o motorista. Eu chorei tanto e ao chegar em casa me ajoelhei pedido por favor à minha mãe, para que ela me mudasse de escola, o que ela fez disse, NÃO, é claro, no outro dia de manhã eu não havia dormido, havia chorado a noite toda, minha mãe me arrancou da cama aos tapas e me obrigou a ir para a escola. Eu passei a chorar dia após dia contando os dias para acabar o ano letivo. Me escondi de todos de todas as formas que eu pude durante meus 3 anos no ensino médio, até que finalmente todos haviam me esquecido.
Esse trauma segurou a minha aceitação como homem gay por muitos anos, eu passei a pensar, como vou assumir se sofri tudo aquilo como criança, sem ao menos saber o que era isso, não quero sofrer novamente. Eu não cuidava da minha aparência para não atrair nem homens nem mulheres, eu só queria que ninguém lembrasse de mim, isso me prejudicou por muitos anos.
Pensei em me atirar debaixo de um caminhão enquanto andava de moto e pensava qual era o sentido de viver. Felizmente algo me segurou e eu decidi que iria viver minha vida da forma que eu deveria viver. Passei a cuidar da minha aparência, usando as roupas que eu queria usar, nada queer, mas uma calça skinny em uma cidade do interior já incomoda os olhares julgadores, passei a tratar os julgamentos como NADA, e comecei a me explorar, tive minha primeira relação sexual gay com quase 24 anos, 4 anos depois saí de lá para o mundo, vivi todas as experiências que tive vontade e depois dos 30 finalmente tomei coragem de contar para minha família.
Agora eu já estava preparado, ou pensava que sim, tive aceitação imediata do meu pai, mas minha mãe não, sofri bastante com a forma que ela passou a me tratar, mas fui firme e não me deixei abalar, hoje nossa relação já melhorou muito, tem muito para acontecer ainda atéela me aceitar de verdade.
Susi foi algo que me calou por muito tempo, mas hoje o Fernando aqui não tem medo de viver e de ser feliz.
Quantas crianças ainda sofrem bulling nas escolas, em casa, na vizinhança, sem um lugar seguro nem mesmo para se esconder, quantas dessas crianças são bonecas largadas no mundo sem uma caixa para ficar dentro para ter alguma proteção, ou as que querem sair e estão presas por arames em seus braços.
Por favor professores, a responsabilidade de vocês com as vidas que estão formando é imensa, deixem seus tradicionalismos, religiões e preconceitos longe das escolas.

Fernando

Sofri muito e dei a volta

Me chamo Larissa Lee ferreira
Tenho 38 anos nasci no RJ e fui vim morar em sp a vinte anos . Minha vida sempre foi marcada de pura dor e sofrimento , fui criada por meu pai e minha madrasta
Como apanhei e aínda fui muito humilhada chegando a morar nas ruas. com passar vinte anos da minha vida conheci minha mãe ela disse : prefiro o meu marido que você , pra min foi um balde de água fria . Resolvi não abaixar minha cabeça e seguir meu caminho , fui morar embaixo de pontes e até mesmo albergues e tudo mais . Quando eu pensei que eu iria dá um novo rumo na minha vida , conheci um homem achei que seria que cuidaria de min , pois não foi bem assim eles simplesmente me batia e me espancava . Na minha última relação meu ex marido me deu três tiros de trezentos e oitenta , mas mesmo assim eu não baixei minha cabeça , sai desse relacionamento entrando em outro quando eu fui me dar conta eu me envolvi com um homem que me deu uma cabeçada na cara e que perdi todos os meus dentes . Bem eu achava que era amor , mas no final eu percebi que eu estava vivendo uma vida nada boa , foi quando internei ele em uma clínica e abandonei ele , tive depressão e minha vida nunca mais foi a mesma . Hoje eu moro só e cansei de dor e sofrimento . Como se não bastasse tudo isso eu tenho sequelas na minha alma. Resolvi escrever um livro cujo o nome : Não sou sobrevivência e sim resistência.
Hoje vendo balas na avenida Paulista e me formei em fotógrafa vendendo balas .
Meu maior sonho seria lançar meu livro.
E encontrar meu filho adotivo que está sumido a 19 anos e meus irmãos a 38 anos de idade , os mesmo mora no RJ .
Também queria muito colocar uma prótese dentária na minha boca mas infelizmente é muito caro e não tenho condições pra arcar com os custo .
Mas hoje eu posso dizer sou feliz sozinha comigo mesma , não tenho marido por opção e quero um dia ser promotora de justiça e sei que vou conseguir.
Espero que nenhum ser humano passe o que eu passei pois com tudo hoje eu posso dizer que sou mais forte que nunca .
Obrigada pra quem vai ler essa carta e espero que tenham cuidado em não colocar qualquer um em sua casa ou em suas vidas .
Meu psicológico nunca mais foi o mesmo .
Meu pix pra quem quiser me ajudar 119647-68562
Meu Instagram larissaleecomvoce pra quem quiser me conhecer Larissa Lee e pode me chamar no PV

Larissa lee

Lésbica depois dos 50

É difícil ser Lésbica depois dos 50, ainda mais desempregada. Uma conclusão: mulher não quer amor. Quer dinheiro.
Outra conclusão: se você tem dinheiro, você pode ser qualquer das “letras”. Tudo e todos têm um preço.
Esse não é o espírito azedo de uma mulher infeliz. É a realidade que vivi durante muitos anos, desde que me formei em jornalismo. Durante muitos anos trabalhei na minha profissão. Com salários altos, bom poder aquisitivo, morando sozinha e com carro na garagem, tive relacionamentos longos. Outros nem tanto. Quase sempre estava acompanhada. Na primeira queda, lá pelos 30, fiquei solteira, mas logo consegui outro trabalho. E rápido já estava casada de novo. Antes dos 50 sempre consegui trabalhar na minha profissão. Sou uma jornalista talentosa e premiada. Com dinheiro, status de funcionária de grandes emissoras de TV, boas roupas e frequentando as baladas da moda, era fácil namorar. Depois dos 50 já somos considerados velhos para o mercado de trabalho. Mesmo assim não desisti. Trabalhei como motorista de aplicativo, vendi cosméticos, escrevi livros de poesias, tentei vender camisetas com estampas dos meus poemas. Nada disso, porém, supriu as necessidades financeiras. E, enquanto fracassavam a área profissional e as finanças, também faliam as vidas afetiva e social. As “amigas” se afastaram. É como se tivéssemos uma doença contagiosa. As mulheres até se aproximam, claro. Sou uma jovem senhora Lésbica bem interessante. Quando descobrem que não tenho emprego, moro com minha mãe idosa, não tenho carro e o dinheiro é bem limitado, as moças fogem.
Há uns seis anos conheci uma moça de outro Estado. Dizia-se apaixonada. Eu ainda ganhava algum dinheiro como autônoma.
Ela decidiu mudar para o Rio. Eu ajudei. Encontrei uma casa para alugar, emprestei eletrodomésticos e dinheiro para comprar móveis. Depois que se instalou na cidade, essa moça sumiu com minhas coisas. Nunca me pagou. Era um golpe. Nunca tinha passado por coisa parecida. Atribuí essa minha “ingenuidade” em acreditar nessa mulher, à carência afetiva de alguém que já não tinha mais uma convivência social. Serviu como aprendizado e ajudou a instalar o medo de estar com pessoas.
Outro episódio que ilustra bem minhas conclusões, foi um passeio que fizemos eu, uma outra mulher que namorei brevemente, já na época de penúria, uma amiga bem mais abastada e a namorada dela, filha de família rica que, para todos os efeitos, ainda está no armário, aos cinquenta e poucos anos. Andando pelo centro do Rio, a namorada dessa amiga atravessava a rua para não andar ao meu lado e da minha namorada. Nós estávamos de mãos dadas. Em outras ocasiões o comportamento dessa mulher se repetia em relação a mim. Parecia não querer que soubessem que estavamos juntas no mesmo ambiente. Não sou muito feminina. E, sem dinheiro, não dá pra usar roupas caras.
Soube depois que essa moça, sem nenhum preconceito, viaja, anda num grupo de Lésbicas ricas iguais a ela. A Lésbica “homofóbica” só tem preconceito com LGBTQIA+ pobres, sem roupas de grife.
Depois do golpe e da falência da vida financeira e social, vivo reclusa. Nem tanto por escolha, mais por imposição da vida.
Ninguém convida uma Lésbica cinquentona desempregada pra sair, nem pra viajar. Ninguém telefona ou chama no WhatsApp. E quando, por acaso, te encontram na rua, ou fingem que não reconhecem ou iniciam a conversa com as mesmas frases: “oi sumida. Tudo bem com você?”
A verdade é que não sumi. Estou no mesmo endereço, mesmo número de celular.
A verdade é que ninguém se interessa se você está ou não bem, se anda se sentindo só, se deseja apenas um abraço amigo, alguém pra te ouvir, ou apenas sentar e beber uma cerveja gelada, sem nada dizer. Só pra saber que, apesar de tudo, tem outro copo na mesa.

Marcia

Av. Paulista é “Gay Friendly”

Sou nascida e vivida na cidade de São Paulo, uma capital conhecida por ter “todo tipo de gente”. Li relatos na internet (se tá na internet é vdd) e ouvi histórias de amigos que moram em cidades pequenas, reclamando que nelas é mais difícil ser queer, pois só pintar o cabelo de vermelho já chama atenção suficiente para sofrer de pré julgamentos negativos (sim, pintar o cabelo é ritual queer kkkk). E de fato, nos bairros aqui de SP onde o comércio e os restaurantes são voltados aos jovens, é normal cada um ter o cabelo de uma cor. Mas dizer que SP é Queer Friendly, ou ainda, que a Avenida Paulista é Queer Friendly, é passar pano pra discriminação. Sim, posso me sentir menos assassinável como queer passeando na tal avenida, do que num bairro cheio de bolsominion por exemplo. Mas um lugar onde você ACHA que não vai ser morta não pode ser chamado de Queer Friendly. Poha isso é o mínimo. Quando eu (mulher) tive um date com uma outra mulher na Rua Augusta (a travessa “mais queer” da Av Paulista) eu não podia beijá-la sem um bando de macho escroto rodear a gente e bater palma. Não era de noite, não estavamos semi nuas, não estávamos nos agarrando como se não houvesse amanhã, não estávamos em uma balada, não eram homens bêbados (nada disso nem justificaria, mas como mulher queer eu tenho o péssimo hábito de metralhar fatos contra justificativas do injustificável). Não existe lugar Queer Friendly no país que mais mata trans, e os barzinhos que se denominam assim só querem nosso pink money. É isso que eu queria contar, foi mal que não foi um conto de aventura. Foi só uma reclamação mesmo.

Camila K

Leões e fantasmas

Tenho 60 anos e desde que me lembro de ter consciência de vida, me percebo como masculino. Sofri muito na infância e na adolescência pq além da angústia e das disforias severas, ainda faltava informação, em uma época onde não havia internet e tudo era proibido. Apesar disso, na adolescência já me afirmei perante família sociedade. Minha carreira não decolou por conta dos preconceitos mas, felizmente acabei trilhando meu próprio caminho e tive uma vida profissional satisfatória. Me apaixonei muito por mulheres cis, levei muitos foras, alguns humilhantes de algumas, mas também tive relacionamentos bem legais com outras. E sempre me declarei, mesmo sabendo dos riscos. Hoje estou aposentado, moro na praia e estou casado há 12 anos. Meu espírito se acalmou e minha mente se tranquilizou. Faço muita atividade física para minimizar as disforias e trabalho muito a mente para exercer o perdão aos desavisados. Minha família sempre me apoiou e por isso consegui chegar até aqui. Agora só quero paz e calmaria. Só quem passa por uma inadequação assim é capaz de entender a dimensão do sofrimento que carregamos na alma e no corpo. Levantar toda a manhã, matar muitos leões por dia , espantar os fantasmas à noite e viver brigando com o mundo e consigo mesmo, pode destruir facilmente a vida de uma pessoa trans porque além de todas as dificuldades e desafios enfrentados pelas pessoas cis, ainda temos que lidar com nossas disforias e medos e com a intolerância e desrespeito alheio. Muito difícil. Então, se você é cis, não precisa nos amar nem casar com a gente. Mas respeite. Porque ninguém escolhe viver em desarmonia com seu próprio EU. Fiquem em paz.

Eli

Vivências que movem o mundo

Transbordei em Amor quando me descobri oceano, habitado num mar de possibilidades incríveis. Minha luz se acendeu por completo, por extravasar meu lado único e verdadeiro, que estava oculto, à espera por vivenciar os benefícios da liberdade, de mostrar pro mundo inteiro, que agora minha vida seria bicolor, não pelo fato das cores da bandeira trans ser rosa e azul, mas por saber que as águas dessa imensa travessia, afundou as pequenas ilhas que haviam brotado.

Victor

Viver sem medo…Ou quase

Descobri-me bissexual aos 14 anos, mas é aos 19 em que estou descobrindo que a tolerância é bem mais limitada do que eu imaginava. Criei expectativas, principalmente, em torno de minha família. Achei que seu amor por mim anularia qualquer preconceito, que eu e minha namorada seríamos acolhidas. Mas o que meu pai me disse quando anunciei meu namoro? Não recebi felicidades, mas avisos para ter cautela, não me exibir. Traduza-se: não dar pinta. Discrição. Fiquei feliz quando minha avó convidou minha namorada para o aniversário do meu avô, eu e minha namorada sabíamos que não era todo casal sapatão que tinha essa possibilidade. Mas, apesar de ela frequentar minha casa, acha que meus pais não nos aprovam, no fundo. Quero acreditar que não é isso, mas sei que pode ser verdade. Às vezes me pergunto se eles só estão esperando que essa minha loucura acabe e eu conheça algum menino legal, e isso tudo fique no passado. Mas eu sou loucamente apaixonada por aquela mulher, e se é uma loucura, é a melhor que eu terei na minha vida.
Enquanto eu enfrentei o que entendi como uma rejeição implícita de meus pais, minha sogra me acolheu como uma segunda mãe. A ela pude confessar tudo que não pude aos meus pais. E pensar, também, que a intolerância não está só na expulsão de casa. Está na falta de apoio, na falta de proteção. Hoje sou professora, e falar de sexualidade, ainda mais homossexualidade, é um tabu enorme. Você corre risco de comprar briga com os pais preconceituosos, que acreditam que seus filhinhos serão corrompidos ao saber da existência dos LGBT. De um professor gay, já cheguei a receber a orientação de desviar do assunto quando crianças comentam sobre o que é ser gay e lésbica. Meu deus, como desviar? Isso existe e elas sabem! Se nós, LGBTs não nos protegermos entre nós, quase ninguém vai. E aí, como você tem coragem de dizer que eu sou a única responsável pela minha proteção? Dizer para eu me esconder é a mesma coisa que pedir para que eu viva à sombra das pessoas que podem exibir seus afetos porque isso não acarreta perigo a elas. E eu quero, com a minha vivência, dizer que estamos presentes. Nós existimos não só na tv, como celebridades extravagantes, ou nas notícias, como vítimas. Quero postar foto, quero falar da minha namorada, quero viver sem reservas. Sei que é um risco, mas não aceitarei mais ser coagida. É uma promessa que eu faço para mim, mas sabendo que provavelmente a quebrarei. Não é fácil.
Encontrei, também, lugares de amizade, como a universidade e movimentos sociais. Já pude dizer na aula que assisti o filme recomendado para a aula junto com a minha namorada e expor as discussões que tivemos em torno. Nos movimentos, nos apresentamos como casal – e conhecemos mais casais LGBT. Eu quero estar cada vez mais entre pessoas assim. E também presente, existente, em lugares que dizem para eu me esconder. Ainda tenho medos e inseguranças. Mas elas vão me controlar cada vez menos.

L. M. M.

Saí da igreja

Me chamo Emanuel, tenho 20 anos e esse ano decidi sair da igreja e me assumir publicamente. Meus pais são evangélicos, e por três anos estudei teologia em um seminário evangélico da minha cidade, ao fim do terceiro ano, quando já estava preparando o TCC, final de 2021, tudo aquilo foi começando a deixar de fazer sentido pra mim.
Eu já havia me entendido enquanto gay há quatro anos pelo menos, mas na minha mente a visão de que “isso é errado” era muito forte, e eu havia optado pelo celibato. Quando eu decido fazer meu TCC sobre como a igreja tratava a questão da homossexualidade, eu me expus a muita literatura científica no campo, e cada vez mais o discurso da igreja que me exigia o celibato e que só me aceitava caso eu seguisse aquilo deixou de fazer sentido pra mim.
Nesse tempo, conheci meu melhor amigo (vou chamar ele de T), também gay, e que me ajudou muito no processo de colocar minha cabeça nos eixos, pra eu poder pensar com mais clareza, eu tava extremamente confuso. Conforme a gente ia conversando eu aprendia com ele, e fui cada vez mais me libertando do peso que estava sendo, pra mim, o de viver uma vida dupla, e nessa época eu decidi que iria sair da igreja, isso aconteceu no fim de 2021. Mas ainda havia um problema: minha família extremamente religiosa e eu sem independência financeira para me sustentar caso eu fosse expulso de casa.
Nessa época, me assumi como gay para minha irmã mais velha, que me apoiou incondicionalmente, e que ainda me apoia mesmo morando longe.
No dia 15 de Dezembro conheci o G (vou chamar ele assim aqui kk) que hoje é praticamente meu namorado, me apaixonei por ele (a primeira vez que eu me permiti me apaixonar por alguém, agora livre da mentalidade sufocante da religiosidade) e a urgência para que eu possa simplesmente amar ele da maneira que eu quero, publicamente, cresceu, e eu comecei a buscar um emprego o mais rápido possível pra poder não mais depender de meus pais.
No meio de Janeiro eu comecei a trabalhar, e, apesar de ainda não ser o suficiente pra eu sair de casa, o trabalho me proporcionou espaço para me afastar da igreja, me deu liberdade de estar mais perto do G, e me deu a possibilidade de pagar por cursos profissionalizantes pra eu tentar vagas com uma remuneração melhor, é nesse momento que eu estou.
Consegui me afastar (ainda não totalmente) da igreja, sou abertamente gay no trabalho e com amigos mais próximos, e até o meio do ano quero ter saído de casa, pois sei que se eu ficar aqui, minha vida vai ficar insuportável. Estou com o homem que eu amo, estamos nos conhecendo melhor, e pela primeira vez eu me sinto livre, e sinto ser quem eu de fato sou. Ainda falta muito pra acontecer nessa história, mas queria compartilhar com cada um(a) de vocês essa felicidade.
Ainda é difícil conviver com meus pais, devido aos comentários homofóbicos e machistas que eles fazem todo dia e que eu ainda não posso rebater pra evitar uma expulsão de casa nesse momento, mas ver uma luz no fim do túnel é pelo que eu mais me realizo hoje!
Um abraço a todxs que gastaram um tempinho lendo esse depoimento, um abraço pra vocês, espero que esse depoimento sirva de encorajamento pra quem, assim como eu, ainda está nesse processo, não estamos sozinhxs!

Emanuel

Fé e coragem

Meu nome é João Victor, tenho 21 anos e sou de Belo Horizonte,MG. Eu cresci dentro de uma igreja evangélica e criado por família cristã.Fui da igreja durante toda a minha vida. Desde que me entendo por gente. Eu fui uma criança feliz, mas não convencional. Eu sempre me achei diferente dos outros meninos. Nunca gostei das coisas que eles gostavam. Gostava de brincar de casinha com as outras meninas, era sempre chamado por elas, algo tão natural pra mim. Sempre cresci assim e nunca me incomodei, apesar do comentário de terceiros. Tudo ia bem até chegar a minha adolescência. Comecei a ter certo envolvimento com as coisas da igreja, mas também começou a despertar em mim interesse em outros meninos. A luta começou aí. E conforme eu fui crescendo, tinha que me esconder aos poucos. Até que cheguei nos meus 18 anos. Todos me viam como o futuro da obra de Deus. E esse era um desejo que eu tinha, de ser um obreiro, depois pastor. De ajudar as pessoas pelo mundo a fora, de pregar a palavra de Deus pelo mundo a fora. Era o meu desejo e estava me preparando pra tal. Mas eu tinha que conviver com a minha outra versão. A que todo mundo ia condenar, falar que era pecado, que eu tava com demônio e que eu precisaria me libertar. Era uma luta constante. Fazia mil propósitos, jejuns, orações pela madrugada.
Falava com Deus abertamente, que era gay e queria me libertar. Eu tinha ciência da minha condição, mas nada acontecia. Fui consagrado a obreiro. Ajudava as pessoas, fazia as reuniões que o pastor não podia fazer, era o braço direito do pastor. Eu amava tudo isso, mas eu tava me sufocando. Me matando aos pouquinhos. Sendo hipócrita com Deus e comigo msm. Até que eu não aguentei mais. Saí da igreja. Foi doloroso? Muito. Até pq a igreja era tudo que eu tinha. Era quem eu era. Mas foi nescessário. Não podia mais mentir pra mim, nem tentar enganar a Deus.
Em março vai fazer um ano que me assumi como pessoa lgbt. Foi muito duro, e ainda é. Mas eu estou feliz, vivendo e descobrindo quem eu sou todo dia. Quando falo da minha vivência, me chamam de corajoso; nunca me vi por esse lado. Reconheço que foi um ato de amor próprio. A salvação que eu sempre busquei estava em mim mesmo. Agradeço a oportunidade e espero ajudar alguém com a minha história! Muito amor pra todes!🏳️‍🌈🫂

João Victor

Saí do armário pela 2° Vez

Resumidamente pela segunda vez sai do armário. Na primeira me descobri lésbica e com isso fiquei com uma pessoa por 10 anos, até que em 2020 ela resolveu terminar a relação. Entrei em parafuso. Fiquei muito. Al ao ponto de querer dar cabo da minha vida. Foi ai que apareceu uma amiga e me apresentou um grupo no Instagram que apoiava LGBTQIA+ o qual dá spoio Psicológico gratuito on line. Mesmo com dúvidas se isso iria funcionar arrisquei e hj depois de 30 anos me escondendo de quem realmente sou, estou muito mais feliz, por estar me redescobrinfo e me reconstruindo psicologicamente e fisicamente.
Hoje a Andréia deu lugar ao André, homem trans, que estava escondido no fundo de um armário com medo de sair e ser julgado pelos, tendo ao longo de anos vivido para fazer a vontade de outros e não a dele.
Neste 2 últimos anos André descobriu que pode ser sim feliz, e que os seus monstrinhos podem ser derrotados, e mesmo que existam dias ruins, eles não são eternos e que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que enfim ele possa passar por sua terapia hormonal e cirurgia estética para retirada dos intrusos, mas que isso em nada vai mudar o que ele sempre foi desde criança um homem, num corpo que não é o dele, mas que tá tudo bem pq tudo tem sua hora e lugar.
Foram mais de 30 anos escondidos debaixo do medo de mostrar quem sou realmente. É hora do André ser feliz e viver a vida dele como ele sempre quis.

Andre
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