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Kelvin e Ramiro

Você gostando ou não, é impossível negar o poder das novelas no Brasil, especialmente no horário nobre da maior emissora do país. Neste cenário, em uma novela que aborda o universo agricultor que Walcyr Carrasco dá vida a dois personagens que além de conquistar a simpatia do público (mesmo de uma fatia improvável), para nós, eles já são os verdadeiros protagonistas de Terra Paixão: Kelvin (Diego Martins) e Ramiro (Amaury Lorenzo).

Para além da química de milhões dos personagens, as brilhantes atuações dos atores fizeram com que gradualmente fossem ganhando mais espaço de tela, com cenas cada vez mais elaboradas e até mesmo a oportunidade de mudar os enredos que até então estavam previstos. No entanto, o destaque principal está na tentativa genuína de normalizar uma relação que já não deveria causar espanto. Embora não sejam os primeiros personagens LGBT+ em novelas, vale ressaltar algumas características que os fazem especiais.

Contraste

A dinâmica de relação entre um homem muito “macho” e outro bem “feminino”, ainda que imite uma relação hétero nos seus extremos, pode ajudar a quebrar a ideia coletiva (inclusive dentro da nossa comunidade LGBT+) de que o certo é se relacionar somente com os seus iguais – exemplo: “discreto com o discreto”. No passado, tivemos relações parecidas em outras novelas, por exemplo: Crô (Marcelo Serrado) e Baltazar (Alexandre Nero), no entanto, a química ficava oculta, sem muitos abraços ou cenas seminuas. Os singelos “apertaozin” de Kelmiro já mostram um avanço bem interessante na forma como a nossa sexualidade pode ser tratada na TV.

Comédia e Drama

Por muito tempo, nós enquanto pessoas LGBT+, ficamos invisibilizados na TV, quando começamos a aparecer, nos cabia (e até hoje ainda é muito comum) somente o papel da comédia, embora na maioria das vezes Kelvin e Ramiro estejam em situações cômicas também existiram cenas dramáticas trazendo pautas super interessantes, uma delas inclusive, o processo de descoberta do Ramiro. Mesmo que a medida: comédia e drama ainda esteja desequilibrada, certamente já é um caminho melhor do que antes.

Kelvin, um caso a parte

Para além de toda a estéstica e comportamento do personagem (muito bem construído, mesmo que ainda reforce alguns esteriótipos), tudo se baseia em uma atuação preciosa de Diego Martins que brinca com diversos elementos narrativos fazendo com que fiquemos apaixonados com a auteticidade, poder e inocência do personagem. Outros atores (héteros) que já nos interpretaram na TV, muitas vezes “perderam a mão”, caindo em uma interpretação muito caricata e vazia do que é ser LGBT+. Através da sua atuação, tomara que os autores das próximas novelas, considerem sempre colocar atores da nossa comunidade interpretando personagens LGBT+.

Ramiro, o que é ser um macho?

Um personagem criado para ser o vilão e de repente, ganhou nossos corações. Apesar dos jargões “eu sou macho”, matanças e o jeito marrento de ser, ao longo da trama, estamos sendo apresentando as camadas mais complexas (e lindas) de um personagem que infelizmente representa muitos homens, especialmente do Brasil profundo: sem estudos, a mercê de trabalhos duvidosos, vítimas do acaso e que ao se reconhecer como parte da comunidade LGBT+, vivendo em negação. Amaury Lorenzo, nossos parabéns por conseguir de forma tão graciosa destacar as vulnerabilidades do personagem sem perder a essência do “homem bruto”.

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