Para conhecer e celebrar a história do movimento LGBTQIA+ brasileiro, é necessário voltar no tempo, muito antes de 1978. É preciso também não estranhar a expressão usada naquela época: movimento homossexual brasileiro (MHB). O ano de 1978 marca a fundação do Grupo Somos, em São Paulo, o primeiro a se firmar e se constituir de forma socialmente organizada, com representatividade.
No entanto, é importante voltar pelo menos vinte anos antes para conhecer tentativas que, apesar de frustradas, dão uma percepção clara do desejo, da mobilização e da necessidade de organização social da nossa população.
Em 1958, um grupo de “jovens efeminados” de Belo Horizonte se encontrava no Parque Municipal para planejar a criação de uma associação. O grupo foi identificado por policiais da Delegacia de Menores e impedido de realizar sua intenção.
Em outubro de 1966, o Diário de Minas divulgou a notícia de que estava em preparação a criação da Associação dos Libertados do Amor, em Belo Horizonte. A iniciativa foi impedida pela polícia. Em setembro do mesmo ano, em Niterói, foi planejada a realização do I Congresso Nacional do Terceiro Sexo, também frustrada pela polícia local.
O ano de 1968 revela uma investida ainda mais incisiva: em março, a promoção e realização de um Congresso de Travestis em Petrópolis; em maio, um Congresso de Homossexuais em João Pessoa; em julho, nova tentativa em Fortaleza – todas as três impedidas pela polícia daquelas cidades.
O evento de João Pessoa foi noticiado pelo Diário de Pernambuco, que informa sobre os preparativos para a realização de um ‘congresso de homossexuais’ com uma pauta bem definida: “a) reconhecimento do 3° sexo; b) permissão para casamento e divórcio entre homossexuais; c) reivindicação de melhor tratamento por parte da sociedade; d) fundação do Clube dos Enxutos, ‘que deverá ter funcionamento livre, onde quer que seja implantado’.”
